Djalma de Assis Andrade

Código: 96740

Nascimento Congonhas, MG, 2 dez 1892

Falecimento 5 mai 1975

 casou-se com Eurídice Andrade

Irmãos:
Guiomar Andrade Albino (1889 - 1983)
Moacyr Assis Andrade (1897 - 1979)
Noemi de Andrade (1900 - ?)
Leonor Andrade (? - ?)
Ruth de Andrade (? - ?)
Hermengarda Andrade Peconick (? - ?)
Jayme de Assis Andrade (? - ?)

Meios-irmãos:
Péricles Brandão de Andrade (1900 - ?)
Pynho Brandão Andrade (1900 - ?)
Cormélia Brandão Andrade (1904 - ?)
Antônio Brandão de Andrade (1905 - 1984)
Amália Brandão Andrade (1908 - 1998)
Analia Brandão Andrade (1910 - ?)
Elza Brandão Adrade (1914 - 2007)
João Brandão Andrade (1916 - ?)

Estudou Humanidades na Universidade Federal de Ouro Preto, formou-se também em Medicina na UFMG. Bacharelou-se em Direito, pela mesma Universidade, em 1915. Atuou como jornalista em muitos jornais e revistas de Belo Horizonte. No Estado de Minas, assinava uma coluna intitulada, “História Alegre de Belo Horizonte”. Bibliografia: “Versos Escolhidos” (1935) - “Poemas de Ontem e de Hoje” (1937) - “Sátiras” “Cartuchos de Festim” “Poemas Escolhidos” “Versos Escolhidos e Epigramas” (1945).
Foi também professor de História e Literatura pela UFMG. Membro da Academia Mineira de Letras (cadeira no. 9, 1944) e Membro Honorário da Academia de Letras de Lisboa.

Djalma Andrade era um indivíduo que se dedicava tanto ao jornalismo quanto às letras. Nesse sentido, ele inovou ao criar uma coluna com uma característica própria.
A coluna “A história alegre de Belo Horizonte”, assinada por Djalma Andrade vai exatamente na contramão da vertente de afastamento do jornalismo impresso da
literatura.
Em sua coluna, que por sinal era uma coluna fixa no jornal, Djalma Andrade após apresentar as manchetes dos principais acontecimentos do dia, fazia poesia com os fatos apresentados. Para tanto, o jornalista-escritor ora se valia de um tom crítico, ora se valia de um tom cômico. Sua coluna se apresentou como a maior representação do jornalismo literário deste recorte – a proposta de “A história alegre de Belo Horizonte” se apresenta como o que seria a mais intensa relação de proximidade entre os discursos jornalístico e literário.
Ao mesmo tempo que a coluna de Djalma Andrade era a maior manifestação da linguagem literária no jornalismo impresso, ela também era o laboratório onde se comprovava ser possível um jornalismo literário que primasse pela informação.
Afinal, se, por um lado, Djalma Andrade fez poesia com os fatos em “A história alegre de Belo Horizonte”, por outro, ele não deixou de informar esses mesmos fatos para fazer as poesias.


PÁGINAS AMARELADAS:
“HISTÓRIA ALEGRE DE
BELO HORIZONTE”, CONTADA
POR DJALMA ANDRADE
Maria do Carmo de Oliveira Moreira dos Santos*
Em aventuras como essas, prodigalizei e consumi meus anos. Não
me parece inverossímil que em alguma prateleira do universo haja um
livro total; rogo aos deuses ignorados que um homem – um só, ainda que
seja há mil anos! – o tenha examinado e lido. Se a honra e a sabedoria e
a felicidade não estão para mim, que sejam para outros. Que o céu exista,
embora meu lugar seja o inferno. Que eu seja ultrajado e aniquilado, mas
que num instante, num ser, Tua enorme Biblioteca Se justifique. (Jorge
Luis Borges)
Enveredar pela “enorme biblioteca” e se aventurar por inúmeros
escritos adormecidos, guardando em segredo histórias e relatos de outros
tempos, é sempre algo fascinante. Foi entre páginas e páginas amareladas
que me deparei com as crônicas do escritor/poeta/jornalista, Djalma
Andrade. Djalma Andrade nasceu em Congonhas-MG, em 2 de dezembro
de 1892 e faleceu em 5 de maio de 1975. Estudou Humanidades na
Universidade Federal de Ouro Preto, formou-se também em Medicina na
UFMG. Bacharelou-se em Direito, pela mesma Universidade, em 1915.
Atuou como jornalista em muitos jornais e revistas de Belo Horizonte.
No Estado de Minas, assinava uma coluna intitulada, “História Alegre de
Belo Horizonte”. Foi também professor de História e Literatura pela
UFMG. Membro da Academia Mineira de Letras (cadeira no. 9, 1944) e
Membro Honorário da Academia de Letras de Lisboa.
A partir da pesquisa, “Intelectuais e vida pública”, coordenado pela
Profa. Dra. Maria Zilda Cury (UFMG) e pela Profa. Dra. Ivete Lara
Camargos Walty (PUC-Minas), surgiu a ideia de desenvolver um estudo
sobre Djalma Andrade a fim de investigar sua atuação como um
intelectual. Optei por fazer um recorte na obra do escritor, privilegiando
as crônicas, publicadas no Estado de Minas na coluna intitulada, “História
Alegre de Belo Horizonte”.1
Além das crônicas, Djalma Andrade escreveu: “Poemas para as
escolas”, “Versos escolhidos e Epigramas”, “Vinha Ressequida”, “Brasil
ditosa Pátria”, “Poemas de ontem e de hoje”, “Cartuchos de Festim”,
obra esta que lhe valeu alguns anos de prisão, pelo seu teor crítico à
ditadura brasileira. Todas as obras citadas foram localizadas em bibliotecas,
menos “Cartuchos de Festim” que pelas informações teve tiragem pequena
e exemplares apreendidos.
Pelo contato com a obra do autor, através de suas crônicas, dá para
inferir que, não menos satírica, a escrita de ”Cartuchos de Festim”
provavelmente incomodou a muitos, o que pode ter sido a razão para sua
apreensão. Em outra ocasião, o Presidente Artur Bernardes mandou
prender Djalma Andrade por ter produzido um jingle que fazia insinuações
sobre a sexualidade do presidente. Assim diz a letra: “Quando à cova ele
desceu/ inteiramente despido/ Disse o verme a outro verme/ Não como,
já foi comido.” De forma às vezes bem humorada, outras em um tom
bastante irreverente, o autor critica a elite de sua época. Assim, a tessitura
das crônicas, publicadas na coluna “História Alegre de Belo Horizonte”,
não escapa a esse tom provocativo, próprio do escritor.
Ao perceber Djalma como crítico de sua sociedade, algumas
questões complexas surgem e exigirá um estudo minucioso, quais sejam:
Se os intelectuais, segundo Sérgio Miceli, possuem uma relação tensa
com a classe dominante, pois parece “servir sem servir, fugir, mas ficando,
obedecer negando, ser fiel traindo”(p. 72), e isso constitui uma contradição;
de que maneira posso pensar Djalma Andrade na esteira desses intelectuais
que também, como define Sartre (1984), seria por essas mesmas
contradições, um “monstro”? De que maneira em seu discurso pode
perceber seus conflitos ideológicos? Esse intelectual corresponde às
expectativas ditadas pelos interesses das classes dominantes entre elas a
própria igreja, já que seu discurso é atravessado por sua formação religiosa
na Igreja Católica?
Falar de Djalma Andrade ou, em alguns momentos, “falar por”, é
uma forma de lembrar o que foi esquecido por um determinado grupo ou
geração e de narrar o desconhecido para muitos. Recuperar textos e
montar percursos através dos diversos fragmentos recolhidos é uma
maneira de “cuidar da memória” dos que contribuíram com a construção
da história coletiva, neste caso específico, da história literária e cultural
mineira. Nesse ínterim, remexer as crônicas arquivadas e amareladas
desse escritor significa realizar o papel de reconfigurar um passado, de
recuperar e de transmitir uma história que se mostra fragmentada e que,
assim, se configura como uma falta, uma ausência.
Para Derrida (2001), o arquivo tem um lugar, um lugar da falta
originária e estrutural da chamada memória. Derrida define que além de
escolher o espaço físico para guardar o material, os arcontes também
interpretavam os arquivos. Nessa função árquica, o arquivo abriga,
dissimula, reúne signos. Dessa maneira, o resgate do trabalho e da atuação
de Djalma Andrade na cena pública permite discutir e refletir sobre
questões que ajudam a compreender um dos períodos da nossa história
cultural. Como não há um acervo, um arquivo constituído do escritor/
cronista/poeta, torna-se necessário fazer o levantamento dessa memória,
que se mostra ainda tão fragmentada. O trabalho com fontes primárias
envolve toda uma pesquisa para construção do objeto a partir do qual irá
debruçar o pesquisador. O trabalho com fontes primárias, escreve Cury
(1993), “significa (..) a reconstrução – ainda que impossível na sua
totalidade - de um material fragmentado, espedaçado, lacunar, sujeito às
intempéries da história, do fogo do tempo, dos vazios da memória e dos
buracos das páginas.” (p.80).
Todo esse percurso torna-se pertinente uma vez que, como defende
Derrida (2001), a palavra arquivo, apesar de apontar para o passado,
também indica o futuro. Segundo esse autor, o trabalho de resgate do
passado abre a possibilidade da construção de um futuro menos amnésico
e de construir, no presente, a possibilidade de reviver o passado em um
futuro próximo. Nessa mesma linha de pensamento, Cury (1995), diz que
o olhar para trás possibilita a compreensão do nosso presente, porque “o
que é arquivado revela-se como espaço que abriga a produção viva que
se resgata para a iluminação do presente”. (p.56). Em trabalhos desta
natureza, isto é, os relativos a fontes primárias, o pesquisador vê-se na
contingência de “criar” seu objeto de análise. Diferentemente do livro já
pronto, o pesquisador de acervos, de jornais, e revistas, necessita desta
manobra, que também se faz um trabalho criativo, uma vez que o ato de
arquivar significa manter viva uma história, um período, uma produção e
faz “re-circular” discursos.
Agora, “entrando no bosque” literário de Djalma, este estudo
comenta a configuração das crônicas desse autor. Em primeiro lugar há
que se precisar o período que durou a publicação das crônicas intituladas
“História Alegre de Belo Horizonte”, que começou em 13/4/1947 e durou
pelo menos até 1954. Uma pergunta está ainda sem resposta: Essa coluna
retorna depois de 1954, em outro jornal? Além dessa pergunta outras
foram surgindo a partir das primeiras pesquisas na hemeroteca do Arquivo
Mineiro e na biblioteca da Academia Mineira de Letras, como por
exemplo: O que lia Djalma Andrade? Existe ainda a sua biblioteca
particular? O que anotava e como seria a sistematização da feitura das
crônicas? Mas, tudo isso faz parte de um projeto que não morre com esta
publicação. Há muito que se pesquisar sobre esse autor intrigante pelo
seu humor crítico.
É interessante notar, além do teor crítico de suas crônicas, a
particularidade da estruturação do texto nas colunas, “História Alegre de
Belo Horizonte”. Na primeira parte, Djalma Andrade traz um fato do dia,
relatando um acontecimento social e/ou político e, logo depois, constrói
trovas, satirizando o fato:
“Noticia do dia: o senhor Ademar de Barros foi vaiado no
Maranhão; o Sr. Góis Monteiro explicou as conversas que
manteve com o Sr. Dalton Coelho, líder populista: o Sr. Bias
Fortes pede prudência aos chefes de partidos; o Sr. Cristiano
Machado foi aplaudido em Uberlândia; o Sr. Juscelino
Kubitschek, com grandes probabilidades ao eixo, percorre o
Estado fazendo propaganda de sua candidatura.
Protestos e tempo quente./ Que a hora é de confusão:/ Ademar
foi brutalmente/ Vaiado no Maranhão.
Afastando um caso sério,/ Em alto, claro e bom tom,/ O Góis
desfaz o Mistério/ Das conversas com Danton.
Na defesa da decência/ Do regime e tudo o mais,/ O Bias pede
Prudência/ Aos cabos eleitorais.
Já que lutar é preciso/ Em rude e doida carreira/ Cristiano com
um sorriso/ Empolga Uberlândia inteira.
Entre foguetes e bandas,/ De Euterpes Municipais/ Juscelino,
velas pandas/ Percorre Minas Gerais.” (5/8/50)
Numa segunda parte da crônica, o autor relata outros fatos
acontecidos no dia em que a crônica é publicada ou, pelo contrário, conta
histórias do passado:
“Noticiam os jornais que o sr. Getulio Vargas não adotou a hora
de verão. Seu relogio2 está uma hora atrasado. Acreditam alguns
que o ex-ditador assim procede para demonstrar que não deseja
acertar o seu relogio com o do general Dutra. O fato não tem
importancia já que o cronometro do sr. Getulio Vargas deixou,
há muito, de marcar a hora do Brasil.
Quanto mais o tempo aperta,/Mais seu odio se renova/Seu relogio
não acerta/Pelo do Dutra, eis a prova.” (11/1/54).
É preciso saber do momento político da época para entender a
crítica, como por exemplo, a rivalidade política dos ex-presidentes Vargas
e Dutra. As crônicas de Djalma tratam de fatos históricos ou comuns,
ligados a um determinado contexto. A narrativa é livre, trazendo
perspectivas pessoais, com marcas peculiares do cronista.
O texto que ocupou a parte de entretenimento do jornal Estado de
Minas tinha, assim, o objetivo de entreter o leitor, marcando a importância
de perceber o espaço da crônica como um veículo de interação do
intelectual e seu leitor. Quem lia a coluna “História Alegre de Belo
Horizonte”? De que forma ao fazer uso de uma coluna do maior jornal
mineiro, Estado de Minas, este intelectual o faz de maneira a defender
um discurso ideológico? São questionamentos que ainda persistem. Veja
como exemplo esta crônica em que Djalma faz uma crítica ao uso
excessivo da palavra “povo”:
“Nunca se pronunciou tanto a palavra povo como nos discursos
ouvidos no dia primeiro de maio e, no entanto, nunca o povo foi
mais infeliz, abandonado e escarnecido.
Povo! Povo! Expressão oca./ Vaga, fluida, fugidia,/ É a palavra
que enche a boca De quem tem alma vazia.
Palavra que não diz nada,/ Mas que brilha, que faz onda,/ Que
dá vigor á tirada/ E a fase morta arredonda.
Quem afinal neste novo/ Regime esta com a razão?/ Se o governo
é bem povo, / Também o povo é opinião.
O povo na atrapalhada, / Do regime áspero e rude,/ É tudo e não
vale nada,/ É nada, mas vale tudo.
Sofredor faminto e mudo/ O seu destino maldiz:./ Pelo seu bem
se faz tudo/ e o povo é sempre infeliz.” (5/5/51).
Usada por políticos, essa palavra apareceu num momento da
ditadura e vinha carregada de todo um valor ideológico. O populismo
brasileiro dos anos 50 e 60, herança da era Vargas, oscila entre a
democracia liberal da Constituição de 1946 e a prática política
centralizadora e autoritária. A partir dessa constatação surgem outras
indagações, como por exemplo, como se dava a relação de Djalma,
escritor crítico, satírico, com o perfil ideológico do jornal Estado de
Minas? Seria possível extrair uma crítica no seio do espaço ideológico do
maior jornal mineiro?
“Noticiam os jornais que os lideres do PTB estão em contato
permanente com chefes comunistas esperando o momento
oportuno para se apresentarem à nação como um bloco único e
terrível. Em cidades do norte do Brasil queremistas e comunistas
se reúnem camaradamente na mesma sede e lutam pelos mesmos
princípios e ideais.
Pelo mau fado tangidos/ Vargas e Prestes reunidos/ Dão cabo do
brasileiro;/ A pátria apenas avista/ A foice do comunista/ E o
chicote do vaqueiro.
Comunismo e queremismo,/ E a pátria a beira do abismo/ Nesta
hora confusa e atroz,/ corre em vilas e cidades/ Que as das
calamidades/ Querem se unir contra nós.” (...). (15/1/49).
Interessante relembrar que Luiz Carlos Prestes foi um dos principais
líderes comunistas do Brasil e em 1934, designado pela Internacional
Comunista, liderou um movimento, com o objetivo de derrubar o governo
de Getúlio Vargas. Mas o movimento revolucionário foi derrotado pelas
forças de Vargas. Prestes foi preso, juntamente com Olga Benário, sua
esposa. Olga foi deportada para a Alemanha, mesmo grávida de uma filha
de Prestes, pelo governo Vargas, que neste momento simpatizava com a
ditadura de Adolf Hitler. Presa na Alemanha, Olga dá à luz sua filha.
Após anos de prisão em campos de concentração, Olga foi morta na
câmara de gás. A crítica que Djalma faz da suposta união de Prestes e
Getúlio passa por essa triste história. Mesmo perdendo sua esposa por
situações adversas, Prestes esquece esse episódio e se une ao seu principal
opositor.
Fatos como esse são recuperados pelo espaço da crônica, quando os
cronistas os registram não os deixando se perder no tempo, e os
pesquisadores os resgatam, presentificando-os. O hábito de escrever
crônicas tornou-se recorrente entre os intelectuais brasileiros, pois é
através desta escrita que os cronistas sempre comunicaram com o seu
público:
“Em Recife, a policia encontrou numa casa em que se reuniam
comunistas milhares de boletins com a frase: “Trata o burguês
com casaca e tudo”. Para tornar a vida insuportavel3, a Russia
aconselha aos adeptos do credo vermelho que procurem irritar o
povo, e, principalmente, os representantes das classes
abastadas.
Da Russia que não nos poupa,/Veio o conselho, bem vês:/ Se és
garçom, derrama a sopa,/No paletó do burguês.” (31/10/48).
O movimento comunista surge no Brasil pela rebelião operária de
1917-1920, quando os operários de fábricas se manifestaram enquanto
classe diante da burguesia e do Estado e da revolução socialista
internacional. Essa revolução burguesa deveria ser realizada pela aliança
da classe operária com o campesinato e a pequena-burguesia urbana.
Com o objetivo de promover o mais rápido desenvolvimento das forças
produtivas do capital, esses segmentos deveriam se unir, propiciando um
processo produtivo voltado para o mercado interno de bens de capital e
de consumo. Para tanto, o confronto com o latifúndio feudal e com a
dominação imperialista era inevitável. Pela crônica acima pode-se
perceber como o cronista interpreta esse conflito. Nessa perspectiva,
Djalma, ao defender suas ideias no espaço público da imprensa, se
caracterizaria um intelectual à luz de Sartre?
Sartre (1994) define o intelectual “como um idealista, por acreditar
no porvir; como um mal necessário, pois se precisa dele para conservar,
transmitir e enriquecer a cultura.” Ainda em consonância com Sartre, “o
intelectual moderno é o homem contradição” (p.7), porque nasce da classe
burguesa e trabalha a favor da classe menos favorecida. E é essa divisão
que se percebe nos escritores brasileiros. Premidos por uma necessidade
econômica, muitos foram cooptados pelo governo, ocupando cargos
públicos, sendo obrigados a trabalhar a favor de uma ideologia. A esse
respeito diz Sartre:
“O especialista do saber prático é um ser dividido: é um
pesquisador e um servidor da hegemonia. É alguém, portanto,
dilacerado entre as exigências da universidade presentes na
prática da pesquisa e os particulrismo sociais, econômicos e
culturais que condicionam a sua atividade e a sua própria vida.
Em outras palavras: é um universalista na técnica e um
particularista na submissão à ideologia dominante. Só quando se
rebela, o “especialista” se torna um intelectual.”(SARTRE,
1994:.7).
Esse teórico define, pois, o “Intelectual orgânico” de Gramsci, que
formado no campo da burguesia, assume o ponto de vista das massas
populares, para entender a sociedade. Os filósofos aparecem assim como
intelectuais orgânicos, “no sentido que Gramsci dá à palavra”, nascido da
classe burguesa, encarregam-se de exprimir o espírito objetivo dessa
classe. “De onde vem esse acordo orgânico? De início, do fato de que são
engendrados por ela, levados por seus sucessos, penetrados por seus
costumes e seu pensamento”. (p. 21). “Intelectuais e oprimidos no que
pesem as mesmas contradições sociais no presente, deveriam encontrarse
‘num porvir longínquo, de uma sociedade de homens livres” (p. 9 ).
Sartre resume o intelectual como “alguém que se mete no que não é da
sua conta”; “.. abusam da notoriedade para sair de seu domínio e criticar
a sociedade e os poderes estabelecidos em nome de uma concepção global
e dogmática”. (SARTRE, 1994 :15).
Djalma não pode ser visto como um intelectual isolado e alienado,
sem relação orgânica com a comunidade mineira, como se observa na
separação entre o público e o privado típica do mundo capitalista burguês
da época. As crônicas dão exemplo de um intelectual que, segundo Said,
“tem de circular, tem de encontrar espaço para enfrentar e recrutar a
autoridade e o poder, pois a subserviência inquestionável à autoridade no
mundo de hoje é uma das maiores ameaças a uma vida intelectual ativa,
baseada em princípios de justiça e equidade.” (p.121). Talvez fosse
pensando em criar esse espaço que em 13 de abril de 1947, Djalma
inaugura sua coluna de crônica, “ A História Alegre de Belo Horizonte”,
diariamente publicada no jornal Estado de Minas:
“Belo Horizonte sempre foi uma cidade alegre e feliz. Em meio
século de vida, nenhuma calamidade, nenhum dia de luto pesado,
nenhuma página triste a ser relembrada. Construída por uma
ruidosa turma de jovens engenheiros, a capital crescerá
vertiginosamente, desmentindo as profecias do Padre Correia de
Almeida e zombando de seus epigramas.
“É a terra dos episódios estranhos, inexplicáveis, dizem uns, não
existe a palavra impossível no dicionário de Belo Horizonte,
acrescentam outros. Há, ninguém nega, no que aqui acontece
uma nota viva de originalidade e pitoresca. É exatamente esse
aspecto alegre dos episódios que procuraremos fixar, em tópicos
leves, nesta secção que hoje iniciamos.” (13/4/1947).
É interessante observar o tom da escrita desta crônica inaugural. O
autor fala da “cidade alegre”, como um lugar edênico. “Nenhum dia de
luto pesado, nenhuma página triste a ser relembrada.”? A leitura que se
pode fazer dessas palavras é que existe uma certa negação dos períodos
negros vividos anteriormente. É como, tal qual a coluna de crônicas, se
inaugurasse nesse momento uma nova história. E nesta História não
caberiam mais os horrores da guerra. Ora, o contexto histórico era de um
pós-Segunda Grande Guerra. Por que esse intelectual se nega a narrar os
horrores desse período?
O que parece causar estranhamento nas crônicas do Djalma é
perceber que a crônica também como um gênero literário poderia ser um
espaço propício para reelaborar os traumas desse período.
Mas, há que se ponderar que apesar do tom alegre da primeira crônica,
sustentado pelo título da coluna, as demais crônicas não perdem a dimensão
crítica. Djalma Andrade através de sua coluna “História Alegre de Belo
Horizonte”, relata os acontecimentos da jovem capital, denunciando,
inclusive, as injustiças para as quais a sociedade fecha os olhos:
“Toda a imprensa tem protestado contra a proibição da entrada
de gente de cor no “rink” de patinação “Roberto” existente em
Copacabana. A tabuleta que traz o irritante aviso já foi varias
vezes quebrada pelo povo revoltado.
Nesse “rink” que fascina/ A gente fina e a ralé,/Somente a loura
granfina/ Terá rodinhas no pé.” (19/9/48).
Dessa maneira, esse escritor se posiciona em defesa dos direitos do
cidadão, criticando o preconceito racial. Ao engajar sua competência
particular (jornalismo) dá-lhe um sentido universal, usando da autoridade
de seu saber para fazer uma intervenção crítica. Isso justifica a importância
desse espaço criado pelo intelectual. Como na linha do intelectual à Zola,
que se manifesta a favor de Dreyfus, constituindo a cena primária de
intervenção pública, Djalma, assume esta feição particular do intelectual
moderno ao denunciar os que são injustiçados, também, por questões
étnicas:
“Um hotel de São Paulo, que não hospeda gente de côr, vai abrir
exceção para a artista Josefina Baker.
O hotel em que predomina/ O preconceito ancião, / Vai receber
Josefina/ Por gentileza e exceção./ Essa empresa irritadiça/ Que
não recua ou perdôa:/ Fecha os olhos á mestiça/ E abra as portas
para a “boa”... (12/7/1952).
Não somente a questão do racismo fica evidenciada nessa crônica
como também a hipocrisia da sociedade. Em outro texto, ainda criticando
o hedonismo da sociedade brasileira, o cronista provoca os jovens de sua
época ao comentar aqueles que copiam a moda dos atores do cinema
internacional:
“(...) Ha quinze anos passados, a revista “Montanhesa” procurava,
valendo-se da satira, ridicularizar os jovens que, aqui, imitavam
nos trajes e nos gestos os mais famosos atores de cinema. As
cronicas rimadas do popular “magazine” obtiveram, na epoca,
extraordinario sucesso. Dizia a “Montanhesa”;
“Os jovens são banais, estouvados e rudes,/ Sem talento, sem
graça, sem virtudes./ Procuram copiar os gestos dos atores/
Plagio, reles, serviu, de maus imitadores.(...)
Clarck Gable infeliz que vive numa toca,/ Tendo uma Greta
Garbo a morar na Barroca/ Postiços e “poseurs”, na arrogancia
invenciveis,/ Dizem tolices só, mas tolices incriveis.”
(10/9/48).
Djalma critica a juventude à deriva, com seus valores distorcidos e
também denuncia as contradições da sociedade e seus preconceitos. Mas,
suas crônicas trabalham com assuntos variados, reservando um espaço
para falar das artes e atividades culturais de sua época. Assim essa escrita
salta de um assunto para outro e se abre para falar das produções culturais
da época, evidenciando, inclusive, a relação de Djalma com o mundo das
artes. Pelas crônicas não fica muito claro se o cronista coaduna com a
geração de escritores das décadas de 40 e 50. São raras as menções aos
escritores do complexo estético e ideológico da poesia de 22. Assim
comenta em uma crônica:
“A Exposição Internacional de Arte de Moderna continua a obter
grande sucesso.
A exposição! Nem há rimas/Para exalta-la entre as mais/Gentios
de todos os climas/Na nossa Minas Gerais!
Tudo belo na luzida/Exposição bienal:/A Unidade Tripartida/
Mas o restante, integral.
Muito embora o povo grite/Há ali telas imortais:/Arte pura para
a elite,/Pilheria para os demais...
Todo o salão se ilumina/A’ noite. Sensacional!/Ostenta, snob, a
granfina/o seu talento bienal.” (22 /7/1952).
Em outra crônica, Djalma deixa escapar a sua crítica ao estilo
modernista, quando solidariamente comenta um poema escrito pelo
deputado Afonso Arinos, criticando a demolição da igreja da Boa
Viagem:
“... E o seu protesto foi proferido num poema de acentos
modernista, mas nem por isso despido de emoção e beleza. Disse
ele:
‘A igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem/ (que lindo nome
para um barco a vela)/ Foi construída em 1765,/ Por ordem do
Senhor capitão Mor de Minas/ Para povos do Curral del Rei./
Nessa igrejinha de janelas verdes/ Eu me batizei.’”(...) (5/1/51).
(parte do poema de Afonso Arinos)
Considerando o modernismo como um movimento para a elite,
Djalma mostra como algumas autoridades e o próprio povo não
compreendiam esse estilo que se instalava para ficar. Um dado importante
que ainda precisaria de uma maior pesquisa é analisar o porquê de nomes
importantes da literatura da época, não terem sido mencionados por
Djalma. Cito como exemplo Pedro Nava, Emílio Moura, Murilo Mendes,
Cyro dos Anjos, assim como Manuel Bandeira, Carlos Drummond etc.
Principalmente porque esses escritores também eram colaboradores do
Estado de Minas. Só para corroborar essa constatação, nota-se que na
edição do jornal de 11/5/54, quando Djalma ainda era cronista, aparece,
na primeira página, um artigo de Carlos Drummond, Intitulado “Palavras
Cruzadas”. O fato de o cronista de “História Alegre de Belo Horizonte”
não citar alguns nomes ligados ao movimento modernista poderia levar a
uma inferência de que esse autor teria uma visão conservadora, resistente
às novidades no mundo das artes? Muitos outros nomes não tanto
conhecidos foram citados na sua “crítica de rodapé”. Ali, também, operava
a divulgação de acontecimentos literários e culturais, lançamento de
livros, resenhas críticas. O autor fazia julgamento crítico e resumos
biográficos, tratava tanto das publicações nacionais como das estrangeiras
e divulgava os eventos culturais:
“Sebastião Noronha, em plena maturidade, lança seu primeiro
livro de versos. Não sentiu a ânsia de publicação comum entre
nós. Trancou-se dentro de sua oficina e, em silencio, trabalhou,
soou e sofreu. Poupou ao publico o espetáculo de assistir a
vacilação dos seus primeiros passos, de observar as falhas e
tentativas dos seus primeiros vôos...”
Djalma abre espaço em sua crônica para publicar parte do poema
”Amor”, de Sebastião Noronha.”:
“Esse frio, esta febre, este tormento/ Que tudo quanto vejo
transfigura,/ Que leva os extremos da ternura/ E os desvarios de
um furor violento; Esta ausência, em que vivo desatento,/ Ou de
felicidade ou desventura;/ Este enlevo, este anseio que tortura/
Mas deixa de ser contentamento:/Chama-se amor; e, quando vem
consiste/ Numa vontade alegre de ser triste:/ Uma tranquilidade e
bem estar. Um sonho, uma ilusão, porém tão boa/ Que eu viveria
rindo, rindo á-toa,/ Se não fosse a vontade de chorar!.”
“Voltaremos em breve a falar deste livro que fixa em belos
poemas, encantos naturais de Belo Horizonte e feitos da nossa
gente.” (17/1/49).
Na crônica do dia 18/1/49, O cronista volta a citar Sebastião
Noronha:
“Muitos autores de real valor têm sido ultimamente editados
aqui. Há quatro dias noticiamos o aparecimento de “Sombras e
claridade”, de Sebastião Noronha, e hoje temos sobre a mesa “A
mulher na poesia do Brasil”, notável antologia, organizada por
Da Costa Santos. (...)
É preciso ressaltar que essa crítica jornalística possuía uma
grande força naquele período, por isso citar os modernistas seria
de grande valia para a divulgação de suas produções. A conhecida
“crítica de rodapé” serviu para determinar o sucesso ou não de
um lançamento, de um evento. Estar nas páginas do jornal
significava poder literário: “Poder literário era em parte sinônimo
de uma presença constante nas páginas e noticiário de jornal”
(Sussekind, 1995:16).
Cito outra crônica como exemplo:
“Nesta secção muitas vezes temos feito referencias ao ilustre
mineiro Padre Correia de Almeida, considerado por Camilo
Castelo Branco um dos maiores poetas satíricos do Brasil. O Sr.
Mario Franco de Lima, residente em Barbacena, terra do grande
escritor, acaba de enviar-nos um trabalho inédito do poeta que
também destacava a política e os políticos:
‘Dr Djalma Andrade,
Leio, sempre, com muita atenção, a sua espirituosa e bem
organizada secção ‘A Historia Alegre de Belo Horizonte’, na
qual há dias, apareceu um soneto, inédito, do consagrado Padre
mestre Correia de Almeida. Na oportunidade, pareceu-me
interessante enviar-lhe um outro trabalho daquele ilustre
sacerdote, dedicado ao antigo industrial, da tal cidade, dr. Camilo
Ferreira. O soneto abaixo, organizado há meio século, parece ter
sido escrito em nossos dias...
‘Ceramica fundou em Barbacena/o mais sincero e franco
democrata,/E d’essa fundação de que ele trata, /Ressalta utilidade
não pequena. Entre os dedos tendo eu agora a pena,/Uma ideia
me vem bastante grata,/Pensamento fecundo de ouro ou prata,/
Que se deve aceitar em quarentena.” (...) (24/9/48)
Ao abrir espaço para o diálogo com seus leitores, o cronista parece
tentar estabelecer uma identificação através da literatura difundida por
escritores mineiros. Vale aqui voltar a Said que, ao discorrer sobre a
relação do intelectual com a identidade nacional, comenta o conceito de
intelectuais dado por Mathew Arnold, em Culture and anarchy (1869).
Nesse conceito, Mathew apresenta os intelectuais como “indivíduos cuja
capacidade de pensamento e discernimento os torna adequados para
representar o melhor pensamento – a própria cultura - fazendo-os
prevalecer.” (p.41). Nessa perspectiva, “o papel do intelectual deve ser o
de ajudar uma comunidade nacional a sentir uma identidade comum, e
em grau muito elevado”.(p.41). E se preocupando com uma “certa
autonomia” democrática de uma comunidade, os intelectuais teriam
também o papel de “acalmarem as pessoas, de mostrarem a elas que as
melhores ideias e os melhores trabalhos de literatura constituíam uma
forma de pertencer a uma comunidade nacional.” (p. 41). Uma das
maneiras de despertar essa identificação é através das artes. Nessa
perspectiva, em outra crônica o autor comenta de maneira vaga uma obra
que parece ter causado polêmica na época:
Quem vê Aníbal Vaz de Melo, a caminhar pelas ruas de Belo
Horizonte, mal pode adivinhar que problemas profundos atormentam o
seu cérebro de homem estudioso e sutil. O seu ultimo livro, “Sinais do
tempo”, como, “A Era de Aquário”, dá muito o que pensar. O gênero de
estudos a que se dedica esse ilustre mineiro é novo e fascinante. É no
apocalipse que Aníbal Vaz de Melo vai encontrar explicações para todos
os nossos tormentos e nossas dores.
E, então, o cronista cita o texto do Aníbal:
E do fundo do poço saíram gafanhotos pela terra e lhes foi dado
um poder que tinham os escorpiões. E eles vestiam carcaças que
pareciam ferros e o rumor de suas asas ...” (4/1/49).
Além de perceber a questão da instauração da divulgação de nossa

literatura pelo espaço da crônica, essas publicações permitem refletir
sobre o crítico Djalma Andrade em relação às produções de sua época, e
refletir sobre como essa crítica poderá contribuir para releitura de nossa
produção literária. São inúmeros escritores desconhecidos pela crítica
contemporânea, citados pelo cronista. O que dá pista para o pesquisador,
tal qual um arqueólogo, ir em busca desses nomes e de suas produções.
Existe em Minas uma carência deste tipo de trabalho.
Da mesma maneira, muitos políticos são citados em suas crônicas.
Para poder entrar neste universo da política é preciso contextualizar esse
momento. A política que dominava o Brasil entre 1947 e 1954 (época de
publicação da coluna “A História Alegre de Belo Horizonte”) se fazia por
um pensamento de participação das massas populares urbanas, mas sob
controle do governo na propaganda nacionalista e na promoção da
industrialização por meio da atuação do Estado.
O Governo Dutra (1946-1951) iniciou-se pela convocação da
Constituinte e pela promulgação da Carta de 1946, democrática e liberal.
Mas, o contexto da Guerra Fria e as pressões norte-americanas diretas
levam o governo Eurico Gaspar Dutra a promover mudanças dos direitos
constitucionais. Pela defesa da democracia ocidental e consequentemente
a luta contra o comunismo, o Pres. Dutra suspende as relações diplomáticas
do Brasil com a União Soviética. O Partido Comunista Brasileiro (PCB),
em 1947, é fechado, e os parlamentares no Congresso Nacional, ligados
a esse partido, são cassados. Logo depois, o Governo Getúlio Vargas, no
período de 1951 a 1954, se faz repetindo a política adotada durante o
período ditatorial: uma forte propaganda nacionalista e uma prática
política de caráter populista. Para sustentar sua política nacionalista e
estatizante, Vargas mobilizou as massas populares urbanas por meio dos
sindicatos ligados ao Ministério do Trabalho e ao Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB). Surgiram muitas reações dos setores conservadores
liderados pela União Democrática Nacional (UDN) contra a política de
Vargas. Em agosto de 1954, em um atentado contra o jornalista Carlos
Lacerda, morre, no Rio de Janeiro, um major da Aeronáutica. Vargas é
responsabilizado pelo crime e pressionado a renunciar pelos militares,
suicidou-se. Mapeando a publicação da coluna “A História Alegre...” no
dia que aconteceu e nos dias que sucederam o suicídio, nada foi encontrado,
parece que a coluna já havia saído do jornal, ainda não se pode precisar
se volta posteriormente. Contudo, durante o tempo de publicação, o
assunto política tinha um espaço privilegiado em sua coluna. Em algumas
crônicas, o jornalista deixa aparecer até mesmo sua simpatia por determinadas
personalidades, como é a figura do Milton Campos. É sempre com
certa admiração que o escritor fala sobre a figura singular desse homem
público. Menciona as qualidades do político íntegro, do professor dedicado,
do artista no mundo das letras. Porém, o que mais se comenta sobre o
governador Milton Campos era o seu caráter ético irrepreensível:
“Com Milton Campos não fala./ É que o Milton não dá trela,/
Alma sensível, singela,/ Muitas vezes grave e triste,/ Não quer
que ninguém o amole,/ Em versos do Anatole/ Nem sabe se o
mundo existe...” (13/1/49).
Governador de Minas Gerais (1947 - 1951), Milton Campos realizou
uma significativa administração na área de educação, instituiu milhares
de escolas primárias e nos setores de agricultura e energia elétrica,
realizou notável obra administrativa, além de sustar o empreguismo e
recuperar as finanças. Daí a grande admiração dos mineiros por esse
político.
Na segunda parte desta mesma crônica, numa posição de empatia
política, Djalma relata a satisfação dos mineiros também em relação à
economia:
“Os produtores de fumo do município de Pomba, em telegrama
ao Presidente da Republica, manifestaram a sua satisfação pela
alta desse artigo:
Todo mundo tem seu dia,/ Segundo agora se viu:/ Pomba
demonstra alegria,/ Ao ver que o fumo subiu”.(13/1/49).
Mas o cronista abre espaço também para comentar o que acontecia
nos bastidores da política mineira:
“Antigamente o governo organizava festas sociais que até hoje
são lembradas pela sua imponência e brilho. No tempo do Sr.
Bueno Brandão, havia sempre recepções e bailes no palácio da
Liberdade. O “Diário de Minas” de onze de julho de mil
novecentos e doze dá notícias de um animado sarau oferecido
por centenas de moças da Capital. (...)
Essa vidinha boa durou até o governo do Sr. Antônio Carlos que
começou com brilhantes festas e barraquinhas e acabou
frouxamente com a Revolução de Trinta de desagradável
memória. Durante a administração do ilustre Andrada, o governo
dava a impressão da Corte de Luís XIV. Homens de talento e
damas de grande beleza enchiam os salões do Palácio da
Liberdade. Enquanto reinavam a alegria e a despreocupação nos
altos do nobre edifício, nos porões e subsolo políticos astutos se
preparavam para o golpe que levaria ao poder o Sr. Getulio
Vargas. É com esse requinte e com essa malícia que os mineiros
provocam tempestades e terremotos.” (6/1/49)
Ironicamente, o intelectual se vincula à vida “miúda”, como era
chamada na época, para relatar as fofocas da sociedade mineira, não
deixando escapar a oportunidade de comentar os acontecimentos da
hipócrita sociedade moderna:
Iolanda Monteiro, a bela dançarina que apontou Paulo Gomes
como matador de Delgado, ouvida em São Paulo não confirmou
o seu depoimento. Acredita-se que a amante e parceira do
indignado tenha feito as serias declarações movida pelo ciúme.
Iolanda, a bela granfina/Em São Paulo espalha o pe;/Palavra de
dançarina,/Oferece pouca fé.
Ela – sorriso brejeiro/“Rouge”, “batom”, pó de arroz,/Já quer
livrar seu parceiro/Da alhada em que um dia o pôs.
Iolanda, com seu ciúme,Para o delito em questão/Trouxe uma
onda de perfume,/Despesas e confusão. (13/1/49)
Mais irônico, é quase impossível. A ironia, traço forte no seu texto,
revela uma crítica bem humorada que faz dos diferentes aspectos do
comportamento do povo mineiro, uma riqueza de sua imagi(nação) ao
transitar com sutileza entre a realidade e a ficção para transformar fatos
jornalísticos dramáticos em sátiras.
As crônicas de Djalma Andrade falam de coisas banais do cotidiano
e tratam, também, de situações complexas que permearam a sociedade da
época. Ao mesmo tempo, em um tom de humor, o autor criticava
personagens do mundo político ou artístico mineiro, nacional e internacional,
do esporte ou do espetáculo. Num contexto maior, Djalma reflete, também,
o imaginário social brasileiro e mundial, desvelando a “realidade”, ao narrar
a sociedade escondida nessa complexidade de temas que cotidianamente
escolhe ou lhe vêm propostos pelos acontecimentos
ou pelos leitores:
“Telegramas de Londres noticiam que a modista Louise Haackel
requereu o divorcio sob a alegação de que seu marido so conhece
uma frase carinhosa. Desde que se casaram há quase cinco anos,
seu esposo, de manhã à noite, lhe diz:
‘Minha gatinha’, desejando ser amável e terno./O mundo corre
risco/Quando é sempre e, em tudo, igual,/Se não varia de disco/
Na ternura conjugal.
Homem sem graça e tedioso/Seguir errados caminhos/Se faz
tédio o mesmo esposo,/Enfada o mesmo carinho.
Marido nunca adivinha/O mal que lhe traz a vida:/-Bem que
podia a gatinha/A onça ser promovida.” (29/7/48).
Entre esses e outros assuntos, o autor denuncia de forma irônica a
falta de alimentos na cidade:
“Em Belo Horizonte, não há farinha de trigo nas padarias e nem
carne nos açougues.
Na praça para castigo/Do povo, da multidão,/Não há farinha de
trigo,/Não há farinha de pão.
O povo sente a amargura,/A tristeza do momento/Fartura mesmo,
fartura,/Só se tem de sofrimento.”/ (5/8/50)
Ao fazer uso das artimanhas do humor e nas entrelinhas do
enunciado escancarar as mazelas da sociedade brasileira, o cronista
mostra o seu olhar sempre atento ao que acontece. Para isso,
estrategicamente, usa e abusa novamente da ironia:
Faz pena a vida de políticos em véspera de um pleito renhido.
Perdem aquele ar distraido, aquela disciplina, aquela superioridade
que os distinguem da massa de sofredores. Uma onda de angustia
envolve-lhes a alma com a simples aproximação do pleito.
Tornam-se amaveis, acolhedores, cordiais e obsequiosos. (...)
(15/8/50).
O leitor, ao relacionar enunciado e enunciação, percebe o que se
passa nos bastidores dos acontecimentos. E é esta percepção que alimenta
a sua crítica, como também seus escritos. A ironia “romântica” que
caracteriza as crônicas desse jornalista nasce na subjetividade e na revolta
do individuo contra a sociedade hipócrita e cômoda. Assim, através desta
estratégia, manifesta-se o valor da opinião individual, a busca do diálogo
com a “realidade”. DUARTE, neste sentido, afirma que “Na ironia
romântica não são apenas as narrativas como tais que são irônicas, mas é
o sujeito que a enuncia que assume a atitude ironicamente crítica em
relação ao mundo, a si próprio e ao que cria. (DUARTE, 1994:60). Nas
crônicas, a dinâmica dos acontecimentos veem apresentada de forma
deslocada em um tom crítico, irônico e humorístico. O autor ironista é,
como o define KIERKEGAARD, (1991: 214), “esse ser que conserva
este fino sorriso significativo, ambiguamente revelador de tanta coisa”.
Observe este exemplo:
No Reno, Estados Unidos, os maridos pagam uma taxa de
cincoenta dólares quando surram as esposas. Acrescenta o
despacho telegráfico que no ano passado, foi essa taxa que mais
lucro deu ao erário.
No Reno, que é terra culta,/Com tudo que se requer,/O marido
paga multa/Sempre que surra a mulher.
E segundo a cifra justa/De estatísticas cabais,/É a taxa que menos
custa/E aquela que rende mais./(...) (14/4/51).
Num tom de brincadeira, Djalma denuncia a violência contra a
mulher. A ironia presente nas crônicas é bastante sutil. Através dos
recursos de deslocamento de sentido, e de associações, o cronista estimula
a percepção e a observação do leitor, levando-o a uma reflexão sobre o
enunciado e a “realidade”, isto é, sobre a violência conjugal. Apesar deste
tipo de ironia aparecer, às vezes como um tom de zombaria, o resultado
é de uma atitude crítica. Nada escapa à língua deste jornalista, sempre
atento a tudo que ocorre no mundo e principalmente na capital mineira.
Assim, como cronista da cidade, o autor denuncia também o aparecimento
dos primeiros camelôs. Construída dentro do projeto positivista, “Ordem
e Progresso”, Belo Horizonte teve todo seu traçado urbano planejado.
Portanto, tudo que fugisse a essa “ordem” deveria ser repelido pela
sociedade:
“O comercio em Belo Horizonte passou a ser feito nas calçadas.
Taboleiros de frutas de bugigangas, de matérias plásticas nos
passeios das ruas principais dão a cidade um aspecto desagradável
de feira-livre.Laranja, maçã, banana/Na rua mudada em feira:/
Dura cocada baiana,/Em que a canela é a poeira./(...) Na esquina
um pobre mancebo/Esbanjando em um mau latim/Camelô metido
a sebo/Dá lições com um manequim.
Sob a forte claridade/Da luz do sol tropical/De porta a porta a
cidade/É um bazar monumental.” (30/8/50)
Enquanto os centros eram valorizados, a população começa a dar
sinais do crescimento desordenado, formado por grupos de baixa renda.
Nesse contexto, começa a aparecer um dos grandes paradoxos das
metrópoles: enquanto os governos investiam na arquitetura moderna, que
destacava o cenário dos centros, caracterizando-os como o lugar de
intercâmbio e pólo financeiro, começa a aparecer o contraste entre riqueza
e pobreza nas grandes cidades, aparecendo também os pedintes na jovem
capital mineira:
No intuito de ferir profundamente o coração mole do mineiro, as
mendigas, em Belo Horizonte, para implorar a caridade publica,
trazem sempre nos braços uma criança. As que não têm filhos
pedem um menino emprestado das companheiras de infortúnio e
assim conseguem entenercer ainda mais os corações. São
manobras criadas pela miséria na dura luta da vida” (14/4/51).
Nessa época, o controle da ocupação do solo já começa a preocupar
os urbanistas e também esse cronista da cidade. O projeto, baseado numa
perspectiva higienista, que levava o que estava fora do controle da cidade
para a periferia, daí o traçado da avenida do Contorno, já dá sinais de
falência. A mendicância incomoda a sociedade moderna. Assim como
incomoda os assuntos relativos á violência:
Só ontem foi divulgada, em primeira mão, pelo “Diário da Tarde”,
a notícia do levante de Neves, no dia de Natal. Zé Muniz e o bando de
facínoras de Lagoa da Prata tentaram fugir do famoso presídio. O
anunciante foi morto a pauladas. Ficou, também esclarecido que, à noite,
muitos criminosos ali deixam suas células e vão fazer farra. Reina um
grande mistério em torno dos fatos.
Deu-se em Neves. Predomina
Um grande espanto, ora essa!
Sim, as notícias das chuvas,
Aqui chegam mais depressa.
Só ontem se soube, quando/Não se pode esconder mais/A
violência do bando/De facínoras brutais.
O povo fica surpreso,/Silencio...sigilo...medo.../Al
i se guarda o
segredo/Em vez de guardar o preso. (4/1/49).
Como se pode observar Djalma Andrade se caracteriza um intelectual
quando faz uso do maior jornal mineiro e vê o espaço da crônica e da
poesia como uma intervenção e ação pela linguagem. A poesia, por
conseguinte a literatura, mesmo que não tenha o compromisso primeiro
de engajamento, cria um espaço de tensão e consequentemente de reflexão.
Ressalta-se aqui que devido ao volume grande do material encontrado,
pois as crônicas eram publicadas diariamente, separei apenas algumas
citações para servir de ilustração e análise. O recorte é sempre difícil e
muitas vezes o que fica de fora seria tão significativo quanto ao selecionado.
Mas, a sensação de que algo importante ficou sem ser comentado
faz
parte do sentimento do ensaísta no momento de sua análise. Assim,
privilegiei algumas passagens que mostram o aspecto irônico do autor, a
sua relação com a sociedade, com a política e com a cidade. Também
algumas crônicas que tratam do mundo das artes, especificamente da
literatura. Além de outras em que o relato pareceu-me “pitoresco”, para
usar um termo da época. Este trabalho trata-se apenas de uma amostragem
do que se poderia fazer com todo o material existente, sobre esse cronista,
na Hemeroteca do Arquivo Mineiro. Através deste material, muitos estudos
poderiam ser desenvolvidos como, por exemplo, a respeito das produções
literárias da época e seus anônimos autores. Poder-se-ia ia mapear as
relações políticas partidárias, carregadas de ideologias, próprias da época.
Segundo Cury (1998), existe “...a necessidade da pesquisa em fontes
primárias num país como o nosso que sofre, no seu cotidiano, a violência
da dominação cultural e do apagamento de seus registros.” (p. 27).
Portanto, Djalma Andrade inscreveu-se na cena literária por não
deixar perder no tempo os acontecimentos de sua época. Ao contrário,
resgatou aquilo que o tempo, em sua passagem fatal, engoliria. Por
perceber o valor sócio/político/cultural de seu trabalho, incentiva-se esta
pesquisa, enfatizando a importância da continuidade dos estudos como
contribuição para a história literária mineira. É sempre fascinante a
possibilidade de “leitura inaugural”, uma vez que existem inúmeros
trabalhos à espera deste tipo de pesquisa. “A pesquisa nos muitos acervos
e arquivos que ainda permanecem praticamente intocados no nosso país,
também ela deve ser incorporada aos estudos genéticos como material
importante para a literatura e sua história”. (CURY, 1993:84). Autores
sem alentada fortuna crítica podem ser trazidos à cena pelo trabalho com
fontes primárias e se revelarem de uma importância insuspeitada para a
historiografia e crítica já consagradas.




A coluna “A história alegre de Belo Horizonte”, assinada por Djalma Andrade vai
exatamente na contramão da vertente de afastamento do jornalismo impresso da
literatura. Djalma Andrade era um indivíduo que se dedicava tanto ao jornalismo
quanto às letras. Nesse sentido, ele inovou ao criar uma coluna com uma característica
própria. Em sua coluna, que por sinal era uma coluna fixa no jornal, Djalma
Andrade, após apresentar as manchetes dos principais acontecimentos do dia, fazia
poesia com os fatos apresentados. Para tanto, o jornalista-escritor ora se valia
de um tom crítico, ora se valia de um tom cômico. Sua coluna se apresentou como
a maior representação do jornalismo literário deste recorte – a proposta de “A história
alegre de Belo Horizonte” se apresenta como o que seria a mais intensa relação
de proximidade entre os discursos jornalístico e literário. Tão próximos, aliás,
que seria facilmente possível confundi-los. Após a sugestão dos assuntos, feita em
texto corrido, Djalma Andrade se aprofundava no tema, mas por meio de poesia.
Nesse viés, é interessante perceber o paradoxo que o estilo dos textos da coluna
apresenta. Ao mesmo tempo que a coluna de Djalma Andrade era a maior manifestação
da linguagem literária no jornalismo impresso, ela também era o laboratório
onde se comprovava ser possível um jornalismo literário que primasse pela informação.
Afinal, se, por um lado, Djalma Andrade fez poesia com os fatos em “A história
alegre de Belo Horizonte”, por outro, ele não deixou de informar esses mesmos
fatos para fazer as poesias. Ele apenas os informava através de uma outra linguagem.
Essa constatação talvez possa retratar uma questão importante: mais do
que se afastar do jornalismo literário, talvez o jornalismo impresso pudesse estar
evoluindo em sua linguagem na trajetória que fez entre 1928 e 1958, “aprendendo”
a adornar o discurso sem prescindir da informação. É uma hipótese interessante,
que se justifica no modelo encontrado por Djalma Andrade em que, ao mesmo
tempo que praticava um jornalismo muito próximo da linguagem literária, o fazia
sem que esse jornalismo deixasse de também se pautar pela informação.
Ora vestida de crítica, ora revestindo-se de humor, a coluna de Djalma Andrade se apresenta
como uma das principais manifestações da presença da linguagem literária no
jornalismo impresso diário do Estado de Minas dentro do recorte realizado para esta
pesquisa. Na contramão do afastamento entre literatura e jornalismo, Djalma Andrade
coloca novamente o discurso literário permeado no texto jornalístico. O que se justifica
no “diálogo entre os discursos” exposto no início do artigo. Verifica-se que, em uma macroanálise,
no período recortado para este trabalho, o jornalismo esteve, de forma intermitente
e não linear, ora próximo, ora distante do discurso literário.




Vou focalizar, hoje, um trovador que parece ter passado sua vida inteira na busca de um “achado”: bacharelou-se em direito, estudou medicina, foi promotor público, foi professor de História e de Literatura – mas optou por ser jornalista, meio onde se realizou profissionalmente, sendo um dos recordistas de perma-nência nas páginas dos jornais de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.
Nos jornais, usou e abusou da trova em seus artigos diários, e essas suas trovas eram líricas, mordazes, satíricas, filosóficas, humorísticas, de ocasião...
Vou falar um pouco sobre Djalma de Andrade... Suas trovas, de rimas simples ou duplas, são completas. Por exemplo:
Vendo-te, vem-me à lembrança
tudo que leva ao pecado:
um quarto, um leito de penas,
um lampião apagado.
Tive sede... Com teu beijo,
quis matá-la e foi pior:
depois de morto o desejo
veio um desejo maior!
De todas que amei no mundo,
uma somente ficou.
Deixou traço mais profundo
quem mais de leve pisou!
Todo teu corpo estremece
se te falo – que doidice!
Que dirás se eu te dissesse
tudo aquilo que eu não disse!!!
Djalma de Andrade publicou as seguintes obras: Vinha Ressequida, Poemas de Ontem e de Hoje, Poemas para as Escolas, Cartucho de Festim, etc.. A imprensa diária de Belo Horizonte sempre esteve recheada de poemas, de epigramas... de trovas, de muitas trovas. Seu humorismo, ora sutil e leve, ora mais agudo e ferino, nos deu trovas deste jaez:
Viúva, de andar esquivo,
com seu vago olhar absorto,
eu vivo pensando, vivo,
na vida que deste ao morto.
Hoje só sedas consome
essa morena supimpa:
– depois que sujou o nome
é que ela vive mais limpa!
Com setenta anos de idade
o velho se confessou...
Pecado? Não. Só vaidade
de dizer que já pecou!
Tua modista, senhora,
mostrou ter grande talento,
prendendo um chapéu de plumas
numa cabeça de vento!
As calças do padre cura
e as de Maria de tal,
quando o demônio as mistura
dançam samba no varal!
Os meus castelos são lindos,
vê-los por terra me dói:
– passa uma saia e os construo,
passa outra saia e os destrói!

A L I C E
Com certeza, lembrando-se de algum amor da juventude, compôs estas duas trovas:
Eu, tão calmo e tão avesso
a emoções, não sei porque
se vejo Alice, estremeço,
e ela cora se me vê.
Tenho medo, faço alarme
quando Alice me sorri:
– aos cinqüenta anos, quer dar-me
o que aos vinte lhe pedi!
Djalma de Andrade nasceu em Congonhas do Campo, MG, terra dos Profetas de Aleijadinho, e Patrimô-nio Cultural da Humanidade. Desse inesquecível trovador são estas preciosidades:
Numa vela se resume
toda luz que o morto leva:
– ninguém vê que é pouco lume
para o tamanho da treva!
A dor, por maior que seja,
se comprime e se contrai:
– eu nunca vi dor, no mundo,
que não coubesse num ai!
Quando eu penso em ti, eu penso
tão alto, com tal tormento,
que chego a temer que os outros
escutem meu pensamento!
Vai o Tempo em correria,
tangendo com duro açoite,
o potro branco da luz
e o corcel negro da noite!
A saudade é a luz da lua,
luz que a tristeza gelou,
a iluminar os caminhos
por onde o sol já passou!
Que alegria suave e doce
na clara luz matinal!
Brilha o sol como se fosse
um pandeiro de cristal!
Eu disse, caros companheiros, perto de vinte trovas de Djalma de Andrade. Muitas mais eu diria, se tempo houvesse.
Djalma de Andrade foi um trova-dor dos primeiros tempos do trovis-mo no Brasil, desde a década de 60, – e sua produção foi ótima, em quantidade e qualidade. Faleceu no ano de 1975.
Resumo da palestra feita na reunião de 000513 da União Brasileira dos Trovadores – Seção São Paulo, SP, no Clube Português de São Paulo, pelo trovador Héron Patrício.

Sobrenome Andrade
Sobrenome Assis

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Eurídice Andrade

Código: 144730

Falecimento Falecida.

 casou-se com Djalma de Assis Andrade

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Filhos do casal:
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Luiz Andrade